A Quinta do Piloto costuma marcar presença nos excelentes eventos promovidos no Rio pela entidade “Vinhos da Península de Setúbal” e sempre surpreende  pela qualidade do que apresenta, não só seus vinhos fortificados, mas também seus tintos e brancos.  Assim, ao visitar a bela região de Setúbal, não podia deixar passar a oportunidade de conhecer a Quinta do Piloto e degustar in loco seus interessantes vinhos, tendo como cenário um belo entardecer de inverno.

A Quinta do Piloto fica na vila de Palmela que pertence ao distrito de Setúbal, ou seja pertinho de Lisboa.  O enólogo Filipe Cardoso é o responsável pelo projeto cuja historia foi iniciada pela sua família há quatro gerações. Filipe costuma vir ao Brasil com certa frequência para divulgar seu trabalho.

Sempre é bom lembrar que na Região da Península de Setúbal há 2 Denominações de Origem (DO):

  • DO Palmela: Regulamentada desde 1989, limitou a produção nos concelhos de Montijo, Palmela, Setúbal e Sesimbra.  É permitido produzir vinhos tintos, brancos, rosés, espumantes e  licorosos, sendo que os vinhos tintos  obrigatoriamente devem conter 67% da casta castelão;
  • DO Setúbal: Regulamentada desde 1908, limita a produção nos mesmos concelhos da DO Palmela, mas a DO Setúbal é exclusiva para produção de vinhos fortificados, os famosos Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo.  Há a obrigação de incluir pelo menos 85% da casta Moscatel de Setúbal ou Moscatel Roxo no mosto.

Na companhia da querida Andreia Lucas, da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal,  tivemos o prazer de degustar  vinhos selecionados por  Filipe: 3 brancos, 4 tintos e 2 Moscatéis. Alguns, já havia degustado antes.

OS VINHOS BRANCOS

A seleção dos vinhos brancos foi muito interessante, pois tivemos a oportunidade de degustar dois rótulos varietais, ou monocastas como dizem os portugueses,  bem originais, da linha Collection; e um corte, ou lote como dizem por lá, da linha Reserva DOC Palmela.

  • Piloto Collection Síria 2018.  Elaborado em quantidade bem limitada com 100% síria proveniente de uma pequena vinha pertencente à família Cardoso há muitos anos.  Fermentado em tanques de inox, sem envelhecimento em garrafa. Possui muita frescura, corpo ligeiro e bem aromático com notas minerais e cítricas. A casta síria é conhecida como roupeiro no Alentejo, sendo mais comum encontrá-la em cortes com outras uvas.
  • Piloto Collection Roxo 2018.  A casta moscatel galego roxo é uma casta rara e mais utilizada para elaborar os famosos vinhos fortificados da região. Delicado, com notas florais intensas, frescura e mineralidade. Fermentado em inox, também sem envelhecimento em garrafa.
  • Quinta do Piloto Reserva Branco 2015. Corte composto por antão vaz, arinto e síria. Possui bom corpo, estrutura e intensidade de aromas, além de agradável acidez. Fermenta em barricas de madeira e faz estágio de 12 meses em carvalho francês com bâtonnage para promover maior contacto do líquido com as borras e conferir mais textura ao vinho.

OS VINHOS TINTOS

Degustamos 4 vinhos tintos, sendo muito interessante a oportunidade de comparar um varietal touriga nacional com um cabernet sauvignon português, ou seja, uvas que possuem muitas características em comum quanto ao corpo, estrutura e personalidade. Gostei mais do TN do que do CS.

  • Piloto Collection Touriga Nacional 2017. Faz estágio de 12 meses em barricas de carvalho sendo 80% francês e 20% americano. Encorpado, apresentou notas de especiarias discretas e  frutas vermelhas e negras;
  • Piloto Collection Cabernet Sauvignon 2017. Mesmo estágio em barricas que o TN. Notas mais vegetais, achei-o mais encorpado que o TN; e
  • Quinta do Piloto Reserva Tinto 2016. Bem complexo, gastronómico e encorpado. Fermenta em ânforas argelinas, faz estágio de 16 meses em barricas de carvalho e fica no mínimo 6 meses descansando na garrafa antes de ser lançado. Elaborado com castelão de vinhas velhas. Persistente e com notas de especiarias e frutas vermelhas e negras.

Além dos 2 varietais e do DOC Palmela acima, degustamos também o Vinho Regional abaixo, ou seja, diversos estilos representados.

  • Vinha dos Pardais Tinto 2014. Surpreendeu. Elaborado com alicante bouschet, touriga nacional, syrah e castelão provenientes de vinhedos de outra localidade que são constantemente visitados por pardais à procura de uvas. Faz estágio de 12 meses em barricas de carvalho e depois passa 24 meses em garrafa. É redondo na boca, complexo e persistente.

OS NÉCTARES

Difícil escolher entre os fortificados abaixo, gosto dos dois! A classificação SUPERIOR refere-se aos vinhos com um mínimo de 5 anos de idade e que tenham obtido na câmara de provadores a classificação de qualidade destacada.

  • Moscatel de Setúbal Superior 2012. Bela coloração âmbar . Persistente. Doçura em perfeita harmonia com acidez e álcool. Notas cítricas, mel, marmelada e frutos secos; e
  • Moscatel Roxo Superior 2012. Cor igualmente bela. Notas cítricas, mel  e avelã. Também com doçura em perfeito equilíbrio.

 

Fonte: Vinhos com Fernando Lima