A região está a investir nos seus vinhos para vencer os desafios da notoriedade, do preço e da exportação. A Autoeuropa pode inspirar uma região vinhateira? A Península de Setúbal acredita que sim e está pronta a ver nas suas vinhas “a força” do produtor automóvel de Palmela, no top das exportações nacionais, com os seus €2 mil milhões, correspondentes a 102.158 automóveis. É verdade que a escala dos números é diferente, desde logo porque o valor de negócios relativo aos vinhos com denominação de origem fica nos €100 milhões, mas Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), assume sem complexos ter ali “uma outra Autoeuropa, sem linhas de montagens”, a investir para crescer, ganhar notoriedade e reforçar a vocação exportadora. São 9 mil hectares de vinha com uma produção média anual de 45 milhões de litros, 70% do qual é certificado.
Na prática, isto significa que a região vende 35 milhões de garrafas de vinho certificado.
Equivale apenas a 5% da faturação da Autoeuropa, mas “mais do que duplica os valores de 2000”, sublinha o presidente da CVRPS para mostrar o impacto do trabalho que está a ser feito na sua região, em terceiro lugar nas vendas na moderna distribuição em Portugal, atrás do Alentejo e do vinho verde, de acordo com dados da empresa de estudos de mercado Nielsen.
A atração do Moscatel a apoiar este desempenho, há investimentos de €37 milhões nos últimos sete anos, na vinha e nas adegas, com resultados práticos como a abertura a outras castas, do arinto ao alicante bouschet, que estão a ajudar a diversificar o perfil dos vinhos da região, ou o aumento da capacidade de produção em 20%.
Outra missão é a recuperação da área dedicada ao Moscatel Roxo. Reduzida a 4 hectares no fim dos anos 80, ronda hoje os 40 hectares “e permite já experiências interessantes e inovadoras na enologia”, designadamente pela utilização da casta em vinhos espumantes e rosés.
A provar a confiança na casta, Setúbal levou apenas garrafas de Moscatel Roxo à última edição do concurso Muscat du Monde, em França. Colocou três vinhos no top 10 e venceu com um rótulo da Adega de Pegões. “São resultados que temos de saber capitalizar”, diz o presidente da CVRPS, consciente de que um dos seus desafios é “melhorar a notoriedade e os preços”, sem esquecer que a notoriedade de alguns produtores locais “se sobrepõe à própria região”.
No caso da Península de Setúbal, com 128 vinificadores, 1200 viticultores e uma área média de parcela de vinha de 6,5 hectares, as cinco principais referências estarão na Casa Ermelinda Freitas, Bacalhôa, José Maria da Fonseca e adegas cooperativas de Pegões e de Palmela. Nos vinhos, 80% das vendas estão concentradas no regional da Península de Setúbal, que começou por ser comercializado como Terras do Sado, mas assumiu o novo nome de acordo com uma estratégia que procura destacar a Península de Setúbal como referência principal, enquanto o D.O. Palmela tem uma fatia de 14% e os licorosos Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo absorvem 6%. O preço médio de venda ao público para o conjunto da oferta anda nos €2,7, atingindo os €4,2 no caso do Moscatel.
Na frente exportadora, que vale 35% das vendas contra 28% no início da década, o objetivo é “assumir a trajetória de crescimento, até porque o mercado nacional está estagnado”, num caminho que passa pela Europa e novas rotas, dos EUA ao Canadá e China, mas onde Angola, apesar da quebra registada, continua a surgir como o principal destino.
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Autor: Margarida Maria Cardoso