Já foi a casta tinta mais plantada em Portugal, mas hoje conhece ressurgimento digno de registo, fruto sobretudo da (re)descoberta das suas potencialidades para dar origem a vinhos de diferentes perfis – que incluem até espumantes e vinhos brancos.

A variedade Castelão, também designada como Periquita (apesar de este nome corresponder à famosa marca da José Maria da Fonseca e não ao designativo oficial da casta), João de Santarém, Trincadeiro ou Tinta Merousa, aqui no Baixo Corgo duriense, está disseminada um pouco por todo o país, podendo ser encontrada nas regiões mais a norte, de acentuada frescura e humidade, até às regiões do sul, em zonas de maior calor e aridez. No entanto, em anos mais recentes, tem sido nas zonas atlânticas de Setúbal e Alentejo que os vinhos mais originais feitos a partir desta casta têm surgido.

Historicamente, foi José Maria da Fonseca quem, levando a casta do seu Dão natal quando resolveu fixar-se em Setúbal e plantá-la na Cova da Periquita, mais contribuiu para o desenvolvimento e notoriedade da Castelão. E se, com o passar dos anos, a variedade, tantas vezes incompreendida, perdeu adeptos e foi sendo paulatinamente arrancada, encontrou em Setúbal o seu grande reduto e fortaleza. A nobreza da casta ganha especial relevância na vinha velha, dando origem a vinhos de enorme complexidade e estrutura, frescos apesar da concentração e das notas de groselha, ameixa e frutos silvestres, muitas vezes em calda ou compotados. Em solos arenosos, origina vinhos mais estruturados e concentrados, de cor violácea e aroma intenso. Nos solos argilo-calcários da Arrábida, gera vinhos mais leves e elegantes, de menor grau alcoólico, mais frutados e frescos.

Mas, como havíamos já referido, nas vinhas do Atlântico, a Castelão consegue transmitir ao copo todo o potencial e frescura de um vinho de clima marítimo, em que a extração é substituída por um trabalho de adega menos “vigoroso”, mostrando a incrível capacidade de adaptação, tão necessária para responder aos desafios colocados pelas alterações climáticas. É, nesse sentido, uma casta de muito futuro.

Dicas:

1. A Castelão é um cruzamento natural entre as variedades Cayetana Blanca e Alfrocheiro, ocupando cerca de 5% do encepamento nacional, cifrando-se em 9.310 hectares. Disseminada por todo o país, é a terceira variedade tinta mais plantada e é na zona da Península de Setúbal que se encontra maioritariamente instalada.

2. A sua adaptabilidade deve-se, em grande parte, ao facto de possuir película grossa, tornando-a bastante resistente aos escaldões. Porém, é amiga do lavrador no sentido em que manifesta a sua elevada produtividade, podendo chegar às 15 ton./ha. Mas, a qualidade da matéria-prima é inversamente proporcional ao volume, sendo que as melhores práticas apontam para rendimentos entre 6 e 7 ton./ha.

3. Em paralelo, oferece a possibilidade de se trabalhar em diversos perfis de vinhos, que incluem rosés e espumantes mais despreocupados, brancos salinos e gordurosos, tintos leves e pouco alcoólicos até vinhos estruturados, densos, complexos e longevos.

4. Como habitualmente, deixamos algumas sugestões, excluindo vinhos em que a casta abrilhanta lotes: da Quinta do Piloto, Espumante Extra Brut e Coleção da Família; da Casa Ermelinda Freitas, Leo d’Honor; José Maria da Fonseca Superyor; Herdade do Cebolal Blanc de Noirs; Pegos Claros Grande Escolha Castelão; Brejinho da Costa 100% Nature Castelão. Do Douro, Espera Castelão Nat Cool; do Alentejo, Maçanita Castelão Reserva; do Algarve, Herdade Barranco do Vale Castelão Reserva. Boas provas!

 

Fonte: Revista de Vinhos